A luta cultural é um dos meios fundamentais para contribuir com a luta pela libertação humana dos grilhões que lhe são impostos na sociedade. Este blog foi criado como uma tentativa de ser um espaço para contribuir com esta luta, rumo a autogestão social.
terça-feira, 24 de setembro de 2013
quarta-feira, 19 de junho de 2013
A Espontaneidade das manifestações
por: Edmilson Marques
O Brasil está sendo tomado no atual momento por um conjunto de manifestações
espontâneas. O que será que vem provocando esse fenômeno que a cada dia está
tomando proporções cada vez maiores (se manifestando em vários países e com
quantidade crescente de pessoas) e mais radicais (do enfrentamento direto e
declarado com o estado)?
Mas o que é espontaneidade? Esta é parte da natureza humana. Ela se expressa de
diversas maneiras no cotidiano de nossas vidas. É a expressão do desejo humano em
transformar o seu cotidiano para que este possibilite o atendimento de suas
necessidades básicas, como comer, beber, se vestir, morar, se locomover sem
dificuldades, criando, assim, uma realidade onde possa desenvolver naturalmente
suas diversas potencialidades. A liberdade, no entanto, é parte fundamental desse
processo, pois, só pode haver espontaneidade se houver liberdade para se
expressar e, desta forma, torna-se também, expressão de sua natureza. Assim,
ser espontâneo é demonstrar através de ações práticas a potencialidade e
capacidade criativa, atuando na transformação da realidade, criando e gerando o
novo, porém, em liberdade.
A espontaneidade, no entanto, pode ser limitada em consequência de ações
controladoras. Isso ocorre quando as relações sociais estabelecidas entre os
seres humanos inibem e limitam ações individuais e coletivas, impedindo o
desenvolvimento natural de suas diversas potencialidades, a exemplo do que
ocorre nas escolas, em que uma criança não cria, mas reproduz o conhecimento
criado por outro, através da imposição realizada pela burocracia escolar.
Quando isso ocorre um novo sentimento é gerado, o descontentamento. O
descontentamento é a demonstração de que alguma coisa existente na sociedade
está limitando ou dificultando o atendimento das necessidades básicas dos seres
humanos, incluindo aí a liberdade. O descontentamento, portanto, expressa o
desejo de romper com estes limites e dificuldades, e agir com o objetivo de
suprimí-los. Ao agir com este objetivo o indivíduo consegue novamente
retomar a potencialidade criativa em suas mãos, perdida outrora,
indispensável para superar esses limites que lhes são impostos.
No capitalismo, no entanto, a ação
espontânea é parte do cotidiano de apenas alguns poucos indivíduos, dos
capitalistas e de uma parcela de seus auxiliares, uma minoria, que têm em suas
mãos a possibilidade de determinar como a sociedade deve ser organizada, e é
nesse sentido que a burguesia conseguiu criar um mundo à sua imagem e semelhança.
Um mundo inferior, um mundo vil, que gira em torno da produção, compra e venda
de mercadorias, um mundo coisificado, onde o ser humano é transformado em uma
coisa para atender aos interesses daqueles.
No entanto, mesmo sendo controlada e
privilégio de uns poucos, a espontaneidade, por ser parte da natureza humana,
tende a se expressar na ação daqueles que são explorados e oprimidos. E é nesse
sentido que atualmente o mundo, não só o Brasil, vem sendo tomado por
manifestações espontâneas que aglomeram milhares de pessoas com o mesmo
propósito, ou seja, o de suprimir determinadas questões sociais que lhes
provocam o descontentamento. No Brasil, os meios de comunicação estão
divulgando que essas manifestações se resumem à reivindicações relacionadas à
passagem de ônibus, que buscam denunciar o descaso do estado com a educação,
saúde, segurança etc. O estopim em várias destas manifestações de fato tem uma
relação com estas questões, porém, há algo mais profundo que é preciso ser
revelado.
Ao analisar a história do capitalismo,
vamos perceber que toda a sua história é marcada por manifestações espontâneas,
hora com maior, hora com menor intensidade. Os motivos aparentes que fazem emergir
a maioria destas manifestações que ocorreram e vem ocorrendo atualmente, no
entanto, diferem em relação ao que reivindicam. Atualmente vemos estourar no
Brasil, por exemplo, manifestações que reclamam da cobrança, e outros do preço,
de passagens de ônibus, mas há também manifestações de trabalhadores rurais, da
própria polícia que clamam por melhores salários etc. A razão de ser destas
diversas manifestações, no entanto, não se resume à reclamação de necessidades
imediatas, embora seja essa a sua expressão aparente, mas, a algo mais
profundo. Desta forma, a explicação para as manifestações espontâneas deve ser
buscada na forma como a sociedade atual está organizada.
O capitalismo é uma sociedade dividida em
classes sociais, e como tal, é organizada para atender aos interesses de uns
poucos em detrimento da maioria. Alguns são privilegiados enquanto outros pagam
pelo privilégio daqueles. É por isso que há indivíduos que podem ser portadores
de meios de transportes individuais, havendo inclusive aqueles que nunca, se
quer, entraram em um ônibus “coletivo”; é por isso também que há aqueles que
pela exploração que exercem sobre os trabalhadores conseguem viver desfrutando
das riquezas produzidas; outros recebem salários exorbitantes enquanto a
maioria esmagadora recebe o mínimo para se manter vivo. Em síntese, o
capitalismo foi organizado de acordo e para atender aos interesses da
burguesia, e esta cede parte de seus privilégios à burocracia estatal para
atuar na manutenção desta sociedade.
Podemos observar essa forma de ser do
capitalismo nos locais de trabalho. O trabalho é o meio essencial que
utilizamos para nos manter vivos. No entanto, foi convertido pela burguesia
como o meio para aumentar e permitir os seus privilégios. É por isso que a
maior parte dos trabalhadores dedica sua vida ao trabalho, mas quem vive em
melhores condições e vai se enriquecendo cada vez mais são os patrões, acompanhados
de perto por aqueles que os auxiliam controlando e oprimidos os trabalhadores,
a burocracia. Devido a isso nunca veremos pelas ruas patrões se manifestando,
utilizando-se de coquetel molotov, em confronto direto com a polícia, nem
reivindicando tarifas menores das passagens de ônibus ou reclamando por
melhores salários e melhores condições de trabalho. E isto não vai ocorrer pelo
fato destas questões e esta sociedade não ser preocupação para eles e por ser
eles a razão de ser desta situação.
Desta forma, o modo como se produz as
riquezas existentes e a maneira como esta é distribuída, é a razão de ser das
manifestações espontâneas. Uma vez que as riquezas produzidas são apropriadas
por poucas pessoas, pelos capitalistas, isso cria uma sociedade em que a
maioria é destituída destas riquezas e sofrem pelo não acesso a elas. Estando a
maior parte da sociedade (as classes oprimidas e exploradas) destituída destas
riquezas, logo, suas necessidades básicas se tornam um fardo, a liberdade
inexistente, e a consequência é a instalação de um descontentamento
generalizado. Assim se institui uma sociedade em que este descontentamento
generalizado faz emergir as diversas manifestações espontâneas, que hora ou
outra explodem como o fogo no cerrado, que busca queimar o velho e preparar o
terreno para uma nova vida, onde a liberdade seja parte da vida cotidiana e a
riqueza produzida, a realização humana.
As manifestações espontâneas expressam,
desta maneira, o interesse da população oprimida e explorada de superar esta
sociedade. Se o descontentamento inexistisse, não haveriam pessoas se
mobilizando e gritando raivosamente por uma vida diferente desta. Assim, uma
das questões que emerge com essas manifestações atuais é que representam em si
a crítica à burocracia, já que não são organizadas nem mesmo guiadas por
integrantes de partidos políticos. É por isso que vemos os representantes do
estado assustados com esse tipo de movimento, por não saberem com quem
negociar, já que no limite de suas consciências, próprio dos integrantes de
partidos políticos, só conseguem pensar uma determinada organização tendo à sua
frente uma vanguarda, os representantes.
Quando a espontaneidade é expressada por
manifestantes que buscam representarem a si mesmos, sem delegarem a outro a sua
própria representatividade, isso gera uma confusão na cabeça dos burocratas,
até mesmo dos intelectuais mais esclarecidos, o que leva o estado a justificar
a repressão que exercem, expressando que os manifestantes são baderneiros,
vândalos e um conjunto de outros adjetivos que utilizam para desqualificar a
sua espontaneidade e fortalecer a falsa ideia da necessidade de representantes.
As manifestações espontâneas, no entanto,
não são frutos de articulações de partidos políticos e se organizam no processo
de desenvolvimento da luta empreendida. Nestas não há alguém determinando o que
fazer nem para onde seguir. As manifestações espontâneas são integradas por
pessoas que tomaram enfim, em suas mãos, o destino de sua própria vida; é a
crítica prática a diversas questões consequentes da forma como esta sociedade
está organizada.
É preciso ainda discutir a ideia de “pacificidade”
que vem sendo aclamada e dirigida à população pelos meios oligopolistas de
comunicação. Podemos perguntar: qual o motivo e interesse pela “pacificidade”
das manifestações? Pacífico, segundo um dicionário famoso, significa: amigo da
paz; tranquilo, pacato; aceito sem discussão ou oposição. Já ser espontâneo, significa:
voluntário, que se desenvolve sem a intervenção de outro. A espontaneidade
exige atuação, no sentido de deixar a inércia de lado para criar com suas
próprias mãos o destino de sua própria vida sem a intervenção de outro; é participação,
porém, perpassa pela oposição quando há limitações para seu desenvolvimento.
A emergência de uma manifestação
espontânea é sinal que os indivíduos não estão mais suportando a situação em
que estão vivendo. E nesse estado é impossível tratar com pacificidade aqueles
que estabelecem a repressão e a opressão como pressuposto das relações sociais.
Desta forma essa concepção que defende a pacificidade caminha em sentido contrário
à de espontaneidade. Assim, o que os meios oligopolistas de comunicação estão
defendendo é o recuo e limitação das manifestações espontâneas, o seu controle.
A defesa da pacificidade não possibilita a
criação do avanço da luta e se limita a reproduzir a mesma sociedade pautada na
opressão e exploração de uma minoria sobre a maioria. Com isso os meios
oligopolistas de comunicação, ao invés de contribuir com o avanço das lutas
espontâneas, no sentido de motivá-las a atingir a radicalidade ao ponto de
colocar a ordem capitalista em xeque, o que fazem é se colocarem como
limitadores da ação coletiva, o que demonstra estarem do lado da burguesia e
também ao lado do estado.
A radicalização crescente das manifestações, no entanto, é uma resposta à
intensificação da exploração capitalista. Com a intensificação da exploração,
consequentemente, houve a necessidade de intensificar a repressão e o controle
por parte do estado. Desta forma, de um lado o estado vem se utilizando da
repressão cada vez mais brutal para manter a ordem estabelecida pelo
capitalismo. Mas de outro, em resposta a essa repressão vem ocorrendo a emergência
das manifestações espontâneas, que, sem as poderosas armas empunhadas pelo
estado, respondem com uma força equivalente através da união coletiva,
movimentando-se a passos largos, tornando-se um só e se levantando como um
gigante diante do estado, agora, não mais pedindo sua permissão para passar,
pois solicitar dele o seu consentimento, é o mesmo que ceder às suas ordens e
correr o risco de ser obrigado a virar as costas para ser chicoteado. O
sentimento comunitário é, desde sempre, a força principal, necessária para o
progresso da revolução (PANNEKOEK, 2007, p. 159).
É claro que esse processo de luta contra o
capitalismo não vai ocorrer de forma pacífica. O estado utilizará de todas as
suas forças (armadas até os dentes) para defender esta sociedade, e é por isso
que as manifestações espontâneas têm mostrado que o meio para se efetivar a
transformação social só será possível através de uma atuação conjunta
radicalizada, sem ser pacífico com a situação instituída, como criticam os
meios oligopolistas de comunicação. Assim, a exploração realizada nos locais de
trabalho e o tratamento repressor que o estado oferece à população são os
motores, agora, com uma intensidade ainda maior, em todos os cantos do mundo,
de todas as manifestações espontâneas que vem estourando em todas as partes do
globo terrestre.
A possibilidade da transformação social
começará a se colocar, no entanto, quando as diversas manifestações espontâneas
que emergem fora dos locais de trabalho eclodirem simultaneamente à luta
espontânea do proletariado, momento em que se abre a possibilidade de
ultrapassarem o campo das reivindicações imediatas e efetivar uma greve geral e
de ocupação ativa. Os operários
Sabem que para conseguir sua própria emancipação, e com ela essa
forma superior de vida para a qual tende irresistivelmente a sociedade atual,
por seu próprio desenvolvimento econômico, terá que enfrentar longas lutas,
toda uma série de processos históricos que transformarão as circunstâncias e os
homens. Eles não têm que realizar nenhum ideal, mas simplesmente liberar os
elementos da nova sociedade, que a velha sociedade burguesa agonizante traz em
seu seio (MARX, 1986, p. 77).
Um dos limitadores daquelas manifestações
é que se restringem, por exemplo, a reivindicar melhores salários, tarifas
menores das passagens de ônibus, melhores condições de trabalho, etc. Pautar a
luta pela revindicação só adia o processo que levará à transformação social.
Tanto é que quando essas passam e os manifestantes conseguem dos capitalistas o
consentimento de suas reivindicações, voltamos a receber salários e ser controlados
e explorados nos locais de trabalho, continuamos pagando passagens de ônibus e
continuamos trabalhando para o patrão sob a supervisão do burocrata. Ou seja, o
capitalismo continua existindo, assim como as relações de opressão e
exploração.
As manifestações espontâneas que ocorrem
fora dos locais de trabalho, no entanto, estão se tornando cada vez mais
radicais e podem abrir brechas no capitalismo para dar início a um processo
revolucionário. Isso pode ocorrer quando a luta espontânea dos operários se
instalar simultaneamente a aquelas. Desta forma a sociedade será tomada pela
luta declarada e aberta das classes exploradas e oprimidas, momento em que juntam
suas forças contra seus opressores e exploradores. É neste momento que se
coloca a possibilidade da passagem das lutas autônomas dos operários para as
lutas autogestionárias.
Quando as lutas autônomas são substituídas pelas lutas
autogestionárias, o conflito se torna mais grave, a guerra civil oculta se
transforma visivelmente em guerra civil aberta e ambos os lados radicalizam
suas ações e a vitória da classe capitalista ou da burocracia significa a
contra-revolução, enquanto que a vitória da classe operária significa a
instauração da autogestão social (VIANA, 2008, p. 29).
As diversas manifestações espontâneas que
vem surgindo em todo mundo, portanto, é o anúncio de uma nova era, o começo de
uma nova história, a ser escrita pelas mãos dos trabalhadores, que erguerão uma
sociedade que será gerida por eles próprios. Concluíram que a extinção da
miséria, da fome, da pobreza, das classes oprimidas e exploradas, em síntese,
do descontentamento histórico que perdura até a atualidade, só pode se tornar
uma realidade com o fim daquele que o produz, ou seja, com o fim do capitalismo
e seu representante direto, o estado. Esse fim, no entanto, só poderá ser obra,
daqueles que são oprimidos e explorados nesta sociedade. As manifestações
espontâneas estão, tão somente, anunciando que este fim se aproxima.
Bibliografia
MARX, Karl. A Guerra Civil na França. São
Paulo: Global, 1986.
PANNEKOEK, Anton. A Revolução dos Trabalhadores.
Porto Alegre: Barba Ruiva, 2007.
VIANA, Nildo. Manifesto Autogestionário. Rio
de Janeiro: Achiamé, 2008.
terça-feira, 4 de junho de 2013
Das greves isoladas à greve geral e de ocupação ativa
Das
greves isoladas à greve geral e de ocupação ativa
Edmilson Marques
O capitalismo é
acompanhado em toda a sua história por um embrião que ele próprio gerou.
Embrião que tende a, uma ou outra hora, provocar o rebento contra a vontade de
seu gerador. Este embrião a greve operária. Esta é um fenômeno complexo, sendo o
resultado de múltiplas determinações, vista predominantemente como algo negativo,
ruim, a causa de desordens para a vida na sociedade, por isso sempre reprimida
pelos patrões e pelo estado. Mas, ao analisar o processo histórico das greves,
observa-se que representa a expressão de luta de indivíduos descontentes com
alguma questão que incomoda sua vida na sociedade.
Devido a essa dubiedade
interpretativa em relação à greve é que buscaremos discutir a razão de ser da
greve, assim como o porquê esta representa um embrião, e sendo um embrião, o
que pode ser gerado daí. Enfim, buscaremos analisar algumas determinações
existentes em torno das greves isoladas
e a necessidade de sua passagem para a greve
geral aliada à greve operária e de
ocupação ativa. Assim, acreditamos esclarecer a razão de ser destas
concepções apresentadas anteriormente.
Rosa Luxemburgo (2011b,
p. 299) coloca que a greve “é o pulso vivo da revolução e, ao mesmo tempo, seu
motor mais poderoso [...] é o modo de movimentação da massa proletária, a forma
de expressão da luta proletária na revolução”. A greve é fruto da ação de
indivíduos descontentes com alguma questão que dificulta a vida que levam na
sociedade. As paralisações laborais pré-capitalistas são frutos deste
descontentamento, e no capitalismo, expressa a sua ampliação e aprofundamento.
Assim, “as diversas formas de paralisações da atividade laboral antes do
advento da consolidação do capitalismo moderno são antecedentes históricos das
greves operárias” (VIANA, 2008, p. 24).
A questão fundamental e
razão de ser da greve, portanto, é a existência de modos de produção determinados
pela divisão social do trabalho, ou seja, de sociedades divididas em classes
sociais. E isso se dá porque em uma sociedade de classes sempre haverá uma
classe que domina, oprime e explora outras classes; uma classe que desfruta de
uma vida privilegiada (comida farta e boa, moradia confortável, etc.), que
devido ao interesse de manter seus privilégios, submetem outros indivíduos à
opressão e exploração, e por isso, os constrange a lutarem para transformar as
condições deprimentes de sua vida, e uma das expressões desta luta é a greve,
através da qual abre a possibilidade da emancipação histórica da humanidade.
Como colocou Marx, “uma das formas mais comuns de movimento pela emancipação
são as greves” (MARX, 2003, p. 119).
segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013
Livro Intelectualidade e Luta de Classes
Sumário
Introdução ...................................................................... 03
Prefácio ...................................................................... 05
José Santana
Intelectualidade e Luta de Cultural ................................... 12
Edmilson Marques
Foucault: Os intelectuais e o Poder .................................. 29
Nildo Viana
Regime de Acumulação Integral e o Debate sobre Mudar o Mundo sem Tomar o Poder ... 50
Diego Marques Pereira dos Anjos
Terry Eagleton Contra os Pós-Modernos: a ironia de uma crítica corrosiva ..... 72
Lisandro Braga
Reforma, Revolução e Ação-Intelectual .......................... 88
Erisvaldo Souza
Jean Barrot e "O Movimento Comunista" ........................ 104
Lucas Maia
MARQUES, Edmilson e BRAGA, Lisandro (orgs.). Intelectualidade e Luta de Classes. São Carlos: Pedro e João Editores, 2013.
quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013
Revista Espaço Livre número 14
Para acessar a revista, acesse o seguinte endereço: http://www.revistaespacolivre.net/
Apresentação
Edmilson Marques
A Revista Espaço Livre chega à sua
décima quarta edição trazendo neste número, um conjunto de textos que, de uma
forma ou de outra, contribuem para avançar e aprofundar a teoria da sociedade. A
teoria da sociedade é expressão da luta revolucionária do proletariado, e
enquanto tal, é fruto do trabalho daqueles que buscam contribuir com a
emancipação humana, que só é possível abolindo a sociedade de classes. Nesse
sentido, é uma necessidade premente a crítica desapiedada do existente com o
objetivo de revelar as determinações que resulta a sociedade atual, fundada em
relações de exploração e opressão.
Enquanto a luta de classes permanece no
patamar das lutas cotidianas, o trabalho intelectual que busca desenvolver uma
teoria da sociedade exige um esforço difícil, já que pressupõe uma luta contra
si mesmo, contra os valores burgueses que hegemonicamente influenciam a nossa
formação. A história do capitalismo, no entanto, demonstra a existência de um
conjunto de indivíduo que incansavelmente colocam a luta pela emancipação
humana como o objetivo fundamental em suas vidas. Em sua maioria, compreendem
que a transformação social só é possível a partir da luta revolucionária do
proletariado, e que esta não é tarefa de partido.
É nesse sentido que caminha o texto de
David Carneiro, “A Importância da Organização: Errico Malatesta e seu programa
revolucionário”, com a proposta de apontar algumas teses do anarqruista
italiano Errico Malatesta e demonstar o caráter libertário intrínseca em sua
concepção. O autor aborda a questão da organização dos trabalhadores, o
conceito de anarquia e outros aspectos da obra do referido autor que contribui com
a luta proletária.
Com o título “Élisée Reclus e a
Concepção do Estado: elementos de uma crítica multideterminante”, João Gabriel
da Fonseca Mateus apresenta uma proposta de “buscar um
referencial eminentemente anarquista e revolucionário, com a preocupação de
propor (além do que poderia trazer academicamente) uma militância libertária”.
João Gabriel objetiva, portanto, analisar a obra de Élisée Reclus no sentido de
verificar sua contribuição para o que ele denomina de “anarquismo social”, com
enfoque em sua concepção de Estado.
O terceiro texto desta coletânea é de
autoria de Lucas Maia que apresenta como proposta analisar “A Produção da
Ideologia e a Questão dos Valores”, sendo este o título da referida discussão.
O objetivo do autor é discutir os processos de “interdependência entre
ideologias e valores”, com a tese central de que “as ideologias, tanto ao serem
produzidas quanto ao serem consumidas, são determinadas pelos valores dos
indivíduos e grupos que a estão produzindo ou consumindo”.
Em seguida o leitor poderá acompanhar o
debate realizado por Marlon Teixeira de Faria, através de seu artigo “Educação
e Relações Sociais”. A proposta aqui é analisar o processo educacional,
articulando análises de vários autores que dedicaram a pensar a educação. Entre
os vários autores utilizados, os fundamentais nesta discussão para o autor
foram Niskier (1992) e Viana (2004 e 2008). Uma das percepções do autor é que “o
processo educacional carrega em seu bojo um alto grau de formação e
condicionamento de indivíduos na sociedade”.
O texto de Nildo Viana trás o sugestivo
título “Quem São os Invasores? A Crítica ao Macartismo em ‘Vampiros de Almas’”.
Para Viana “os filmes de ficção científica que mostram alienígenas tomando
conta de corpos humanos através de vagens tem toda uma história que remete ao
tema do conformismo e do comunismo”, mas qual é “a mensagem que estes filmes
repassam? Trata-se de temor da “ameaça comunista”? Trata-se de crítica ao
conformismo da sociedade norte-americana? Ou é mera ficção sem nenhuma
pretensão de repassar mensagens políticas ou sociais?”. São estas as questões
que o autor buscará analisar em seu texto.
Esta edição da Revista Espaço Livre
apresenta também um breve texto de Noam Chomsky, uma tradução realizada por
Nildo Viana, em que Chomsky apresenta uma indispensável reflexão sobre o
“Leninismo e o Capitalismo de Estado”. Viana observa que este texto se trata de
um extrato de “Os Intelectuais e o Estado” (1977), publicado no livro Para uma
Nova Guerra Fria (1982).
Para completar esta edição três obras
são apresentadas respectivamente no tópico “resenhas” por
Alan Ricardo
Duarte Pereira, João Gabriel da Fonseca Mateus e Gilson Dantas. Com o título
“Cinema e Marxismo: o materialismo histórico”, Alan Pereira apresenta
analiticamente o livro A Concepção
Materialista da História do Cinema de Nildo Viana. Em seguida o livro de
Eliane Maria de Jesus, Educação e
Capitalismo: para uma crítica a Paulo Freire, é analisado por João Gabriel
Mateus e finalmente, Gilson Dantas sugere o livro A Sociedade Cancerígena de Genevieve Barbier e Armand Farrachi.
Enfim, reitero a necessidade da crítica
desapiedada do existente, o meio fundamental para se contribuir com a
emancipação humana. Este número da Espaço Livre cumpre com este papel. Boa
leitura!
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